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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

De tudo ao meu amor serei atento?

Sempre achei lindo o "Soneto da Fidelidade", do Vinícius de Moraes. Mas só com o andar da vida e o acréscimo de experiências é que pude perceber o quão limitada e parcial é a minha compreensão acerca desses versos e, principalmente, sobre a fidelidade. Calma - não sou desses que relativiza fidelidade às condições de temperatura e pressão. A verdade, a minha verdade, é que sei muito pouco sobre o amor.               
Mas, para mim, não há sentido amar se o princípio básico da fidelidade não for seguido à risca. Haverá tempos de sofrimento, de raiva, de muita dor, de carência exacerbada e até de desespero. Mas que amor é esse que não resiste as intempéries do vento e entrega-se ao primeiro paliativo a que tem acesso?

Não! Não! Não! Não e não! Não há como separar o contato físico do contato cósmico e espiritual. Sim, claro - com certeza! - o sentimento verdadeiro do amor é algo que transcende o contato físico, "é um querer estar-se preso por vontade", mas nada mais é que uma idílica ilusão tentar acreditar que, no campo sentimental, seja possível tirar a toalha sem quebrar-se o vidro - pelo menos um estilhaço vai sobrar aqui ou ali e, se por sorte não atingir também alguma das outras pessoas envolvidas no jogo rasteiro da traição, não resta dúvidas que atingirá ao menos o infiel.

Confesso que sou totalmente leigo com respeito ao que escrevo. Sempre sofri exageradamente no que se refere a esses assuntos do coração e não consegui nunca nunca encontrar um ponto de equilíbrio. Agora, com tudo isso, é patente o fato de que a infidelidade é, antes de tudo, uma, e talvez a pior, maneira de enganarmos a nós próprios. Definitivamente, não podemos amar e ao mesmo tempo trair. 

Veja bem, meu caro infiel, se você acha que ama, sente-se carente (seja pela distância física, porque o outro se afasta de você, ou por qualquer motivo), simplesmente tem uma oportunidade e dai você trai - apenas para sentir o "calorzinho" - então você está errado na premissa. Isto mesmo, você não ama! Neste caso, você apenas está enganando-se. E mais, pode estar colocando em risco o que de mais doce outra pessoa tem e que, generosamente, compartilhou com você! 

Enganar-se e colocar em risco a esperança, a fé e a ternura de outra pessoa: é isso que o infiel faz. E é vil. E é cruel. E dá nojo. Agora, quem trai deve ter cuidado! O outro se recupera -  possivelmente num processo demoroso e doloroso, mas recupera-se e em geral sai até melhor do que entrou. Mas, e você, caro infiel?

Pensa quatro, pensa cinco, pensa dez, pensa mil vezes ou quantas forem necessárias e não faça jamais tal atrocidade. O vinho é inebriante e doce, mas pode ser de sangue.

( Silvestre - 22/10/2011)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Não é doce, não é vinho: somos nós mesmos

_ Já tentei caminhar, rezar, já comi doce, ja bebi vinho. Mas não passa.
_ Não é doce, não é vinho. É você. E tudo passa.



Desilusão e perda de confiança em outra pessoa ou em nós mesmos não são nunca fáceis de lidar, entender ou até mesmo aceitar. Mas agora, se não há ninguém para secar nossas lágrimas então o façamos nós mesmos. Os únicos responsáveis por nossas tristezas ou alegrias somos, sim!, nós próprios. Estar ou não bem é, em 100% dos casos, desde os previsíveis aos totalmente inesperados, uma escolha que pertence, apenas, a cada um de nós.

Aconteceu comigo uma vez. Uma única vez e foi definitivo como, inclusive, não poderia deixar de ser: o cristal quebrou. Eu perdi a fé e a confiança em outra pessoa. O fato é que percebi então que tinha perdido a fé em mim mesmo. Quando o trem descarrila dessa maneira não tem mais como voltar atrás: nem mil homens munidos com o mais potente dos guindastes são capazes de colocá-lo outra vez nos trilhos.

Queria muito então voltar à infância, pensar menos e sentir outra vez a brisa macia da inocência no rosto. Mas, nem em tal ocasião e nem agora haveria tal possibilidade - mesmo que sejamos outra vez crianças aquela brisa não cingirá outra vez nossas faces. Sentia-me boquiaberto e estarrecido diante da incrível, no pior sentido, surpresa que o outro me oferecia. Tentava agir com indiferença, sem sucesso. Tentava oferecer a face direita depois de ter a esquerda estraçalhada pela maldade de quem nada sabe, mas esse não é e nem nunca foi eu. Tentava acertar um chute no estômago e expor as vísceras do meu algoz e isso também não é do meu feitio.

Então lutava comigo mesmo numa batalha desigual:

CABEÇA, por que não me dá um tempo? Por que insiste em tirar minha tranquilidade, e até meu sono!, quando tudo está bem?
MEU, por que me incomoda tanto tanto assim saber que alguém, cuja intimidade nem desfruto, está sendo enganado da maneira mais vil que posso conceber?
CABEÇA, me dá um tempo!, fica ai quietinha!, meta-se apenas como o que é do seu interesse! e ME DEIXA EM PAZ!
MEU, por que fico me colocando no lugar de quem não sou eu??!!
MEU, por que essa CABEÇA não pára, não pára e não pára de pensar?

Me dava, literalmente, náuseas não conseguir discernir mais o que o que era verdade do que era mentira. Me dava náuseas a decepção. Me dava náuseas ver a beleza do que acreditava residindo apenas em uma casca, pintada de ouro, e o recheio com material putrefato em decomposição. Queria imergir outra vez na brisa da inocência. Queria parar de perceber. Queria pensar menos. Sobretudo, me dava náuseas saber que não fazia nada mais do que olhar no espelho. Tanto no papel da caça como no do caçador.

_ Como arranjar um abrigo em meio a tempestade?
_ Amanhã será um dia bonito.

É burrice deixar a vida passar enquanto preocupamo-nos com o que ou quem não vale a pena. Tem muita gente boa para conhecer. Em nossas vidas já há muita gente legal: basta olhar ao lado. Até mesmo os que insistem em fazerem-se de maus não resistem ao carinho. Todos viemos nús e desprotegidos ao mundo e, no fim, tudo que precisamos é de um abraço.

_ Perdão por te encher com tanto peso. Por favor não pense que eu não tenho suficiente respeito por você.
_ Bobo, eu estarei sempre aqui por você.


(Silvestre - 21/10/2011)