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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Merda


Hahaha! Merda outra vez! Tudo de novo! Mais uma vez. Mais uma vez 

minha cara na lama, mais uma vez as mãos nos pés e os pés nas mãos. Mais uma vez eu aqui. Admitindo o inadmissível, não me importando se tudo explodir-se, tentando justificar o injustificável. Mais uma vez eu aqui - esperando um milagre?

Dessa vez é diferente, porém. Há uma novidade. Eu encontrei um diamante em meio a merda. E aprendi a separar bosta do que é precioso. Não vou mais contentar-me com a morbidez inócua da autodepreciação quando sei que posso andar sobre as nuvens.

Não dá mais para manter a face enrusbecida. O mundo sorri com uma faca enfiada na cabeça e eu aqui, mais uma vez, fazendo alarde com a picada de uma agulha? Não. Não. Não. Não. Não. Tenho asas!

Para onde vou ou o que vou fazer? Ainda não sei. Quando descobrir, digo. Aqui. Quando descobrir eu digo. Aos sete mares. O fato é que agora é diferente - há um diamante e eu vou lapidá-lo.

Go away!


Ela veio. Tremendamente forte.
Preparou-se, eu acho, uma vida toda para vir
Seu objetivo era maligno: tirar-me a vida
Espreitou-me por onde eu andava
Conversou com os meus
Demoradamente, dolorosamente,
Ela cavou um abismo ao meu redor
Amarrou meus pés,
Amordaçou minha boca,
Vestiu-me com camisa de força.
Pegou-me desprevenido -
Mas antes que empurrasse-me com o mindinho
Despertei e a surpreendi
Achou que estava em suas mãos.
Não, não estava.
Ela não sabia, ninguém sabia, nem eu mesmo:
Meus braços são de aço,
E eu posso voar.

(Silvestre - 10/11/2011)


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A paz

Desde as últimas semanas, venho experimentando uma dose cavalar de maturidade. E o melhor de tudo é que não estou precisando bater a cabeça em nenhuma parede. Apenas sentei-me, não por vontade própria, na cadeira de expectador e acompanho o desenrolar-se das peripécias alheias. Não sem angústia, não sem aflição e, por vezes, até com muita raiva. No ápice da minha humanidade, como a um amargurado que não tem outra atividade senão condenar, confesso que até julguei.

A proximidade torna os fatos viscerais. Uma coisa é ver o "mal-feito" no congresso, na lavanderia ou na vizinhança, outra é vê-lo, literalmente, diante de seus olhos e, ainda pior, ter as mãos atadas e a boca amordaçada. A sensação de impotência vem amplificada então por uma boa pitada de consternação e inconformidade. Tantas dicotomias, paradoxos e a própria exasperação cotidiana de cada um são suficientes para deixar uma cabeça inquieta. Não há escapatória - ou rendemo-nos à loucura ou resolvemos dentro de nós o embróglio (ou pseudo-embróglio).

O fato é que cada vez que tento entender o ser humano, fico ainda mais cheio de dúvidas. Meu dilema, atualmente, é adaptar-me e desencanar de uma vez por todas. Acontece que essa não é uma missao simples. Mas é preciso que se entenda,  e eu próprio tento convencer-me disso, que, quando o assunto são as relações humanas, passividade não necessariamente pressupõe concordância. O fato, derradeiro!, é que não abro mão do meu direito à paz.

(Silvestre - 01/11/2011)

É incrível

É incrível como as pessoas vivem numa rotina diária de tentar  mostrar que são melhores do que você. Não importa o quão bom, complacente e paciente você for: elas têm a pungente necessidade de mostrar que realmente são melhores do que você. "Meu gramado é mais verde", "meu sangue é mais azul", será que o ânus delas também é mais roxo? O mais engraçado é que se você não entra no jogo e fica fazendo o papel do bom samaritano então elas, as detentoras do espírito suíno, conseguem deixá-lo para  baixo. Let you down.

Em casos patológicos graves, meu caro, pega o seu burrinho e cai fora - "limpa até mesmo a poeira dos pés". Mas agora, desde que estamos presos às pessoas então a grande maioria teremos sim que enfrentar. Isto mesmo: entra no jogo e senta a pua. Agora, não é necessário esculachar nem chafurdar na lama como os porcos. Apenas diga "NÃO!" e mostre o seu valor. Se, para tanto, for necessário mostrar ao outro que ele tem falhas então pense bem. Pense muito bem porque você não tem direito de ser o causador da dor alheia.

Há uma tênue linha entre ser combativo e tornar-se mais um deles. É sim fato que o direito do outro só vai até onde o seu começa e, portanto, às vezes é preciso sim, mesmo doendo também em você, dar uma paulada certeira. Mas veja bem: às vezes. Não é necessário usar de artilharia pesada para matar uma formiguinha. Para que deixar o cérebro do outro exposto no chão quando tudo o que ele fez foi dar-lhe um mero arranhão? Agora, é certo que arranhão não vai funcionar quando é o seu cérebro que está exposto no chão!

É incrível, depois de tudo e tudo que passamos juntos, sermos incapazes de ajuntarmo-nos, ajudarmo-nos e, como a um organismo perfeito, funcionarmos em harmonia. Juntos. É incrível porque, ao menos teoricamente seria possível. É incrível nossa demasiada humanidade, tão intensa a ponto de flagrarmo-nos por diversas vezes fazendo exatamente aquilo que repudiamos "veementemente".

(Silvestre - 21 e 22/10/2011)